A manifestação deste domingo em Compostela poderia constituir o ponto de partida de uma atitude que supere definitivamente o estado de morneza com que se tem enfrentado a normalização do uso do galego na rara época democrática que estamos a viver, depois de séculos de negação.
Aguilhoada polo proceder antidemocrático e provocador do Partido Popular -que se atreve a considerar como normal que os governantes não saibam expressar-se na língua do país que governam e chama liberdade à negação da língua de Galiza- a participação na marcha e o entusiasmo suscitado abrem o caminho a seguir para vencer as ideias perversas agachadas trás da não imposição, o bilingüismo harmónico, a convivência amável e ainda da inferioridade e a limitação cultural do idioma próprio, que só se vozeam impunemente contra as línguas das nações sem Estado; num condenável paradoxo em Galiza contra o galego. Usado aqui como um mantra que evita utilizar a razão, o argumento da imposição deviria em esperpento de contemplar-se como tal o uso do espanhol nas clases de matemáticas nas escolas madrilenhas ou o inglês nas de Londres. A demonstração de Santiago constitui um valioso estímulo para vencer a um acosso político e cultural que não diz o seu nome.
Os séculos de marginação deixaram uma pegada na sociedade que é preciso superar através do convencimento. É certo igualmente que o papel das famílias resulta fundamental, como também o é que nesta nesta circunstância resulta urgente lograr avances concretos no uso da nossa língua. Mas é necessário compreender que a normalização do galego, uma língua social e política como todas as línguas, depende principalmente, e mais neste tempo, da existência de um Estado ou uma institução que cumpra uma função estatal, assumindo essa responsabilidade pacificamente e sem equívocos. É isto assim em Galiza, como o é em Holanda, na Confederação Helvética ou em Catalunha.
Os problemas decisivos para à normalização não estão na gente. Só desde a ignoráncia ou da ânsia insultante de dominio se argumenta negativamente sobre a adequação ou limitação do galego para abranger todas as áreas do conhecimento ou da relação humana. Na sua origem e no presente, os obstáculos estão nas instituições políticas. Hoje é um Governo galego subordinado e alienado o que o despreça, e o Estado espanhol quem leva a negação até o ponto de impor em Galiza o dever de conhecer o castelam, considerando anticonstitucional o dever de os galegos saberem a sua própria língua, um preceito este que é preciso combater em defensa de um direito fundamental.
Bem-vinda pois a dialéctica política sobre a normalização do uso do galego reforçada com a manifestação do Dia das Letras Galegas. Tem ao seu favor a realidade de que, malia a perda de falantes monolíngues em galego ocasionadas polo domínio do Estado, a irresponsabilidade censurável dos Governos autonómicos e a abrupta e súbita mudança da estrutura económica e social, a consciência em prol do galego como língua própria e nacional, e também universal, e a determinação sobre o seu emprego pleno como tal, são agora mais amplas que em tempo algum no último século.
Camilo Nogueira Román naceu en Lavadores (Vigo) en 1936. Enxeñeiro industrial e economista, foi eurodeputado polo BNG entre os anos 1999 e 2004.