Todos e todas, homens e mulheres, grandes e pequenos, conscientes ou não de o ser, somos independentistas. Em todos os meus anos, que embora não são tantos já têm sido menos, nunca encontrei pessoas que desejassem a não independência. Mas por vezes parece que desejassem a independência só aqueles que a reclamam; e a reclamam justamente porque a não têm.
A independência, numa ordem diferente de cousas, é claro, é para a mente que se quer pensar livre como o alimento é para o corpo que se quer vivo; e do mesmo jeito que os que vivem na fartura nunca se preocupam dos alimentos que lhes sobram, os que vivem em territórios com independência não se têm de preocupar por ela. A necessidade de independência se sente só quando a não temos, o mesmo que a necessidade de comer se sente só quando temos fame.
Uma pessoa que nunca na sua vida tivesse sentido fame dificilmente poderia imaginar como se sente a necessidade de comer; bom, essa pessoa provavelmente não sobreviveria muito tempo. Com a necessidade de independência sucede algo similar, as pessoas que moram em lugares que são independentes não sabem o que é sentir essa necessidade, porque nunca a sentiram, e negam que essa necessidade mesmo exista... E isto não só é egoísta, mas também é irracional. Imaginemos o que aconteceria se a gente que vive instalada na opulência neste planeta negasse o direito dos que morrem esfameados a tentarem procurar alimento... e em certo sentido isto também se esta a fazer, porque é um facto que há gente, mesmo crianças, morrendo por inanição...
Uma prova de que todo o mundo, todos os países, querem a independência, é que estes contam com um grupo armado para defendê-la a todo custo; e se há algum que não tenha este grupo armado, rapidamente o constitui, ou o procura entre seus amigos para defender a sua independência caso esta estar em perigo. Os grupos armados, os exércitos, não são como um grupo de dança ou uma banda de música para amenizar as tardes outonais; não, um exército é um grupo armado para defender a independência do país ao que pertence.
Então podemos deduzir que todo o país com sua independência, com seu grupo armado para defendê-la, é a favor da luta armada, ou então não teria exército; e este modelo dos países independentes é com frequência copiado polos países que não têm independência, para conseguí-la, e uns conseguem e outros não, mas mentes não conseguem todos são chamados de terroristas. Mas fora dessa forma de os nomear, as duas diferenças que eu ressaltaria são, em primeiro lugar, que os grupos armados dos países independentes têm muito mais poder (que não se deve confundir com legitimidade); e em segundo, que os que procuram a independência encontram-se com uma dificuldade acrescentada, e é que há algum outro que lhe nega o seu direito a ser independente, e mesmo lho tenta impedir.
Fora estas duas, eu não vejo maiores diferenças entre uma e outra forma de luta armada; e mesmo sendo eu contra toda forma de luta armada, como o foi Martin Luther King ou como o foi Gandhi ou como também o era Castelao, há uma cousa que acho paradoxal, e é que aos países a quem se lhes nega o direito a serem independentes, lhes é negado por outros que sim o são, e têm seu grupo armado para defendê-la, e isto eu chamo de hipocrisia, e não me parece aceitável, porque o não posso entender. Como não poderia entender que os que vivem na opulência roubassem os alimentos dos esfameados, e não por eles necessitar essa comida para viver, mas só para que os outros não vivam...
Por tanto, tentar evitar que um povo, que por circunstâncias históricas perdeu a sua independência, a recupere, é fazer que esse povo se mantenha submetido, é negar-lhe os seus direitos, e é certamente negar o próprio povo, e é também, sem dúvida, querer mantê-lo escravo... é enterrá-lo em vida, o que é a pior forma de morte... Porque para morrer todos sabemos que nascemos, e aceitamos; o que não temos por que aceitar é nascer para não existir... Neste sentido a luta pola independência é a luta pola existência; e esta luta, embora deve ser sempre levada a cabo sem usar armas que atentem contra a vida física das pessoas, é o único jeito de liberdade que nos resta...
Concha Rousia nasceu em 1962 em Covas, uma pequena aldeia no sul da Galiza. É psicoterapeuta na comarca de Compostela. No 2004 ganhou o Prémio de Narrativa do Concelho de Marim. Tem publicado poemas e relatos em diversas revistas galegas como Agália ou A Folha da Fouce. Fez parte da equipa fundadora da revista cultural "A Regueifa". Colabora em diversos jornais galegos. O seu primeiro romance As sete fontes, foi publicado em formato e-book pola editora digital portuguesa ArcosOnline. Recentemente, em 2006, ganhou o Certame Literário Feminista do Condado. »